Das regras previstas no projeto, são citadas como positivas a fixação de uma remuneração mínima e a inclusão dos prestadores de serviço no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
“Será certamente usada como exemplo para muitos países que hoje discutem a regulação deste novo modelo de trabalho”, afirmou em nota a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), entidade que representa aplicativos de transporte.
De acordo com a Amobitec, a inclusão desses trabalhadores na Previdência Social vai impactar 1,2 milhão de motoristas.
A entidade destaca também que a proposta “contempla as prerrogativas de uma atividade na qual a independência e a autonomia do motorista são fatores fundamentais”, e cita a segurança jurídica que ela traz.
“A proposta confere segurança jurídica para as empresas investirem no Brasil e agrega benefícios para os trabalhadores”, diz.
Antes, sem uma legislação definida, julgamentos de vínculo trabalhista entre motoristas e aplicativos tinham resultados divergentes em diferentes estâncias da Justiça.
Em nota, a Uber defende que “o projeto amplia as proteções desta nova forma de trabalho sem prejuízo da flexibilidade e autonomia inerentes à utilização de aplicativos para geração de renda”.
O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou na segunda-feira (4) o PL que regulamenta o trabalho de motoristas de aplicativo.
A princípio, o governo visava reconhecer esses trabalhadores dentro da CLT. Contudo, após pressões, o Executivo recuou e definiu regras específicas para esses autônomos.
A advogada trabalhista Luciana Fogarolli reforça a importância de o projeto garantir “patamares civilizatórios mínimos àqueles que se colocam à disposição dessas plataformas”.
Ela destaca a remuneração mínima e a contribuição Previdenciária como pontos importantes nesse quesito.
“Retomar o assunto de estabelecer um marco regulatório sobre o trabalho desempenhado via aplicativos por iniciativa do governo é [uma coisa] bem-vista”, diz.
Por outro lado, a advogada Adriana Faria, especialista em direito trabalhista, argumenta que “embora apresente alguns pontos positivos, [a medida] gera preocupações e retrocessos em relação aos direitos dos trabalhadores”.
Devido à ausência de vínculo CLT, Faria teme pela precarização do trabalho e privação de outros direitos trabalhistas, como 13º salário, férias remuneradas e seguro-desemprego.
Tanto a Amobitec, como a Uber e outras empresas do setor afirmam que vão seguir acompanhando o debate sobre o PL à medida que tramita no Congresso.
Organização da categoria
Apesar de não reconhecer o vínculo de emprego formal, o governo definiu no PL a categoria “motorista de aplicativo de veículo de quatro rodas”.
Os motoristas poderão ser representados por sindicatos, cujas atribuições serão:
- Negociação coletiva;
- Celebração de acordo ou convenção coletiva;
- Representação coletiva dos trabalhadores ou das empresas nas demandas judiciais e extrajudiciais de interesse da categoria.
Adriana Faria avalia que o futuro da categoria dependerá dessa mobilização dos motoristas, além do apoio da sociedade civil.
E com o reconhecimento da categoria, o especialista em Direito Previdenciário, Washington Barbosa, avalia a importância dessa organização mais clara na lei, uma vez que ela também estabelece que caso a negociação coletiva falhe, seja realizada a arbitragem do processo.
Motociclistas
A definição da lei não incluiu os motociclistas na categoria. Na avaliação de Barbosa, isso se deu uma vez que empresas que realizam entregas foram contra a proposta.
Durante evento de anúncio do PL, o presidente Lula fez uma cobrança para que o iFood negociasse a proposta.
Em coro ao chefe do executivo, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, criticou as plataformas de serviços de entrega por aplicativo que não negociaram a regulamentação; e classificou o modelo de operação das empresas iFood e Mercado livre como “altamente explorador”.
A CNN procurou ambas as empresas. O Mercado Livre afirmou que segue aberto ao diálogo e que “diferente do que foi dito, atua de diferentes formas nesta agenda setorial, tendo participado ativamente desde o início da constituição e execução do Grupo de Trabalho junto ao Ministério do Trabalho e Emprego”.
A empresa disse reconhecer a importância da regulamentação e da inclusão da categoria na previdência social. “São pontos relevantes que ancoram temas fundamentais para o aprofundamento do debate junto ao Congresso Nacional e à categoria de entregas.”
Já o iFood informou que a fala de “Marinho não é verdadeira” e que acatou propostas anteriores do ministro Marinho.
Fonte: CNN Brasil